O jardim fechado da alma

 Nem mesmo Santa Teresa D’Ávila tem certeza de onde lhe veio a inspiração de, para explicar como progredir sempre na oração, comparar a alma de cada cristão a um jardim. Alguns exegetas tentam decifrá-la e dizem que tomou o exemplo no “Terceiro Abecedário Espiritual” de Francisco Osuna, livro-chave na vida da santa. Mas se nos atentarmos um pouco, encontraremos essa comparação inúmeras vezes na Palavra de Deus e com veemência no Cântico dos Cânticos, livro tão amado por essa Doutora da Igreja: “És um jardim fechado, minha irmã e esposa, jardim fechado e fonte lacrada” (Ct 4,12).

Fechado, pois Deus nunca o violenta, nunca invade a alma que não o aceita. Muito pelo contrário, carinhosamente permanece à porta e bate, esperando que a abramos (Ap 3, 20). Mas também fonte lacrada, pois somente Ele pode liberar em seu interior a água que vivifica a alma, primeiro purificando-a: “Derramarei sobre vós águas puras, que vos purificarão de todas as vossas imundícies e de todas as vossas abominações” (Ez 36,25); posteriormente, fazendo com que ela mesma seja fonte inesgotável de água viva (Jo 7, 38).

Até que isso ocorra, “Minha alma está sedenta de vós, e minha carne por vós anseia como a terra árida e sequiosa, sem água” (Sl 62,2), pois sem Deus “ficarei parecendo um carvalho de copa murcha, um jardim completamente sem água” (Is 1,30).

Nem mesmo Santa Teresa D’Ávila tem certeza de onde lhe veio a inspiração de, para explicar como progredir sempre na oração, comparar a alma de cada cristão a um jardim. Alguns exegetas tentam decifrá-la e dizem que tomou o exemplo no “Terceiro Abecedário Espiritual” de Francisco Osuna, livro-chave na vida da santa. Mas se nos atentarmos um pouco, encontraremos essa comparação inúmeras vezes na Palavra de Deus e com veemência no Cântico dos Cânticos, livro tão amado por essa Doutora da Igreja: “És um jardim fechado, minha irmã e esposa, jardim fechado e fonte lacrada” (Ct 4,12).

Fechado, pois Deus nunca o violenta, nunca invade a alma que não o aceita. Muito pelo contrário, carinhosamente permanece à porta e bate, esperando que a abramos (Ap 3, 20). Mas também fonte lacrada, pois somente Ele pode liberar em seu interior a água que vivifica a alma, primeiro purificando-a: “Derramarei sobre vós águas puras, que vos purificarão de todas as vossas imundícies e de todas as vossas abominações” (Ez 36,25); posteriormente, fazendo com que ela mesma seja fonte inesgotável de água viva (Jo 7, 38).

Até que isso ocorra, “Minha alma está sedenta de vós, e minha carne por vós anseia como a terra árida e sequiosa, sem água” (Sl 62,2), pois sem Deus “ficarei parecendo um carvalho de copa murcha, um jardim completamente sem água” (Is 1,30).

O jardim fechado da alma

Foto ilustrativa: ronstik by Getty Images

Jardim de delícias para Deus

Vemos, por meio desses e inúmeros outros exemplos, que Santa Teresa usou a comparação apropriada: a alma habitada pela Graça é um jardim de delícias para Deus onde Ele mesmo habita. Ele a transforma (Is 51,3), “caminha” neste jardim (Gn 3,8), quer que seus aromas se espalhem pelo mundo todo (Ct 4,16), saboreia seus frutos (Ct 5,1), abriga-se às suas sombras (Jo 18,1) e colhe seus lírios (Ct 6,2).

Em suas próprias palavras a Santa de Ávila, Mestra da Oração, relembra que “era para mim grande alegria considerar minha alma como um horto ou jardim e que o Senhor passeava nele. Suplicava-lhe que aumentasse o odor das florzinhas das virtudes que começavam, ao que parecia, querer sair, e que fosse para sua glória e as sustentasse (…) e que cortasse as que quisesse, pois eu já sabia que depois nasceriam maiores.”

Santa Teresinha, usando da mesma metáfora do jardim, compara cada alma que se santifica a uma flor: “O mesmo ocorre no mundo das almas, o jardim de Jesus. Ele quis criar grandes santos, que podem ser comparados aos lírios e às rosas, mas criou também outros menores, e estes devem se conformar em ser margaridas ou violetas destinadas a alegrar os olhos de Deus quando contempla seus pés. A perfeição consiste em fazer sua vontade, em ser aquilo que Ele quer que sejamos”.

Virtudes e boas obras

Deste modo, cada alma é um jardim (Santa Teresa), mas também o conjunto delas se torna um grande jardim (Santa Teresinha) onde o Pai, que é o agricultor (Jo 15,1), conduz todas à perfeição, sob o auxílio atento do irmão e esposo (Ct 4,12) que é Jesus Cristo. Devido à necessidade do nosso trabalho ativo em nossa santificação pessoal, somos também os “vinhateiros” ou os “trabalhadores da vinha” (Mt 21,33) que precisam prestar contas do desenvolvimento da própria vida espiritual a Deus.

Assim, Santa Teresa no seu Livro da Vida, lembra-nos para que “Com a ajuda de Deus procuremos, como bons jardineiros, fazer com que estas plantas cresçam [as virtudes] e ter muito cuidado em regá-las para que não morram, muito pelo contrário, que produzam flores de grande odor [boas obras] para alegria de Nosso Senhor, para que venha muitas vezes deleitar-se neste jardim e descansar entre estas virtudes”.

Podemos refletir como a imagem do jardim ou horto é apropriada para retratar a alma: ele precisa de trabalho constante, de cuidado, de proteção quando o tempo não é propício, de podas regulares, de transplantes e de um olhar cuidadoso para ajustar cada planta ou flor no lugar exato. Afinal, o mesmo sol que é benéfico para umas é terrível para outras, a mesma posição no terreno pode ser adequada ou péssima para o desenvolvimento de cada vegetação específica. A vida espiritual não é uma obra de um único dia ou de uma empreitada definitiva. Um muro de tijolos bem construído dura inúmeros anos, mas a alma é realmente como um jardim onde, se há um muro, ele é muito mais uma cerca viva; precisa ser trabalhado, modelado e remodelado, e nunca, absolutamente nunca, pode ser deixado por si só.

Um jardim deixado ao sabor do tempo morre ou desaparece tomado pelo mato. Inúmeras flores ou plantas ornamentais se não recebem atenção adequada deixam de produzir. Assim é nossa alma. Pode ser um “lugar das delícias” ou um terreno baldio. E, é claro, de todos os cuidados que o jardim necessita, o principal é receber água suficiente. Como vimos nas citações acima, um jardim é um lugar onde a água é abundante: “O Senhor te guiará todos os dias e vai satisfazer teu apetite, até no meio do deserto. Ele dará a teu corpo nova vida, e serás um jardim bem irrigado, mina d’água que nunca para de correr” (Is 58,11).

A oração é a água que irriga nosso jardim

Para Santa Teresa D’Ávila, a água que irriga o jardim de nossa alma tem um nome e se chama oração. Assim, se é fundamental acabar com o pecado mortal para que o verdadeiro agricultor tome posse da alma, para que o próprio Cristo possa entrar em seu jardim fechado, é através da oração que a alma é irrigada para produzir seus doces frutos.

Aquele que não reza permanece seco e árido, e se arrisca a ter as próprias minguadas virtudes arrancadas (Mt 25,29) e ainda enfrentar um juízo terrível, pois o jardim da nossa alma é chamado a produzir os frutos do amor (Lc 13,7). Mas como rezar bem e frutuosamente? Nesta série de artigos ‘Aprenda a rezar com Santa Teresa D’Ávila’, vamos examinar ponto por ponto dos ensinamentos desta Doutora da Igreja sobre a oração. Faremos com ela o caminho do cuidado do jardim fechado de nossa alma, preparando-a para ser um lugar de delícias para Deus, onde Ele mesmo se alegra em permanecer (Pr 8,31).

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