A bondade divina e a maldade humana - uso de uma comparação
Sta Teresa D'Avila
Há um tipo de visão intelectual "na qual se lhe descobre [à alma] como em Deus se vêem todas as coisas, e Ele as tem todas em Si mesmo. E é de grande proveito, porque, ainda que passa num momento, fica muito gravada, e causa grandíssima confusão; vê-se mais claramente a maldade de quando oferecemos a Deus, porque no mesmo Deus - digo, estando dentro d'Ele - fazemos grandes maldades. Quero fazer uma comparação, se acertar, para vo-lo dar a entender, porque, embora isto seja assim e o ouçamos muitas vezes, ou não reparamos nisso, ou não o queremos entender, pois não parece que seria possível sermos tão atrevidos, se se entendesse tal como é.
Façamos agora de conta que Deus é como uma morada ou palácio muito grande e formoso, e que este palácio, como digo, é o mesmo Deus. Pode porventura o pecador, para fazer suas maldades, apartar-se deste palácio? Não, por certo; senão que, dentro do mesmo palácio, que é o mesmo Deus, passam-se as abominações e desonestidades e maldades que fazemos nós os pecadores. Oh! coisa temerosa e digna de grande consideração e muito proveitosa para os que sabemos pouco que não acabamos de entender estas verdades e não seria possível ter atrevimento tão desatinado! Consideremos, irmãs, a grande misericórdia e sofrimento de Deus em não nos aniquilar ali imediatamente; e demos-Lhe muitas graças, e tenhamos vergonha de nos sentirmos por cousa que se faça ou diga contra nós; que a maior maldade do mundo é ver que Deus Nosso Criador sofre tamanhas dentro de Si, mesmo às Suas criaturas, e que nós sintamos alguma vez uma única palavra que se diga em nossa ausência, e talvez sem má intenção.
Oh! miséria humana! Quando, mas quando, filhas, imitaremos em alguma coisa este grande Deus? Oh! e não se nos vá afigurar que já fazemos algo em sofrer injúrias! Mas passemos, de muito boa vontade, por tudo amemos a quem no-las faz, pois este grande Deus não deixou de nos amar a nós, ainda que O tenhamos ofendido muito, e assim Ele tem razão de sobejo em querer que todos perdoem, por mais agravos que lhes façam.
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