A invocação do nome de Jesus
Seminarista Nelson Ricardo Cândido dos Santos
A espiritualidade denominada hesicasmo ( ou “hesychia”, ou “oração de Jesus” ) consiste, basicamente, na repetição contínua do nome de Jesus ( ou de uma jaculatória ), de tal modo que essa invocação se torne uma espécie de clamor natural, um reflexo inato, um hábito constante, até mesmo inconsciente.
Embora esta espiritualidade encontre paralelos em outras religiões, foi introduzida no cristianismo no monaquismo primitivo, ou seja, quando começaram a surgir monges e mosteiros cristãos, logo após o final das perseguições aos cristãos no Império Romano e, portanto, o final dos martírios.
Se o martírio era o maior testemunho de fé de um cristão, com o seu fim, um novo modo de vida surgiu para testemunhar a adesão radical ao Evangelho de Jesus: o monaquismo. Os monges passaram a se refugir na solidão de desertos, montanhas ou matas, em completa reclusão, longe das perturbações das paixões humanas, com o objetivo de conhecer e conversar com Deus. Rompiam com todos os laços afetivos e materiais, afastando de si todas as recordações do mundo.
Através da “hesychia”, recorriam à “lembrança de Deus” através de um apelo incessante, “Kyrie eleison” ( Senhor, tem piedade ).
No século V, o bispo de Fotiqué, Diádoco, declarou que purificava o seu coração pela lembrança de Jesus que o inflamava, através da invocação constantemente repetida do nome de Jesus ao ritmo da respiração. Ao tornar-se algo natural, realizava-se a palavra da Escritura: “Eu durmo, mas meu coração vigia”.
Evágrio Pôntico, no século anterior, a respeito dessa espiritualidade, defendia a oração monológica “Senhor, tem piedade”, dizendo que quando há abundância de palavras, existe multiplicidade de sentidos, correndo-se o risco de, com muitas palavras, dispersar-se o espírito, tirando-lhe o sossego. E só o sossego tornará o espírito, a alma e o coração capazes de contemplar a Deus.
Essa espiritualidade desenvolveu-se e fixou-se principalmente nos mosteiros do Sinai, no final do século VI. Pouco depois, São João Clímaco expôs de maneira precisa esta técnica espiritual na obra “Escada Santa ou Degraus para subir ao céu”. Dizia ele que a invocação do nome de Jesus é uma oração sempre presente no coração, pois ela se encontra ligada à respiração, ao próprio sopro da vida. “Que a lembrança de Jesus seja uma só coisa com vossa respiração; então conhecereis a utilidade da hesechia” (Degrau 27). Para São João Clímaco, assim como para Evágrio, a oração monológica impede que o espírito se disperse, ao mesmo tempo que alimenta a lembrança constante de Jesus no centro da vida humana, no próprio coração do homem. Assim, a memória de Jesus, interiorizada pela invocação constante de seu nome, torna Sua presença real.
No século XIX, na Rússia, o peregrino russo, em seus “Relatos”, escreve: “Invocando o nome de Jesus 12.000 vezes por dia, eu me sentia esmagado de felicidade e sabia já o sentido destas palavras: ‘O Reino de Deus está dentro de vós’”
O hesicasmo é uma técnica muito antiga e comum de concentração espiritual, através do domínio da respiração e do relaxamento, possibilitando um estado de calma que favorece a meditação. De certa forma, o hesicasmo continua presente em nossos dias.
O verdadeiro terço bizantino é um exemplo que reflete este tipo de espiritualidade de oração constante, como via de contemplação mística. Assim, para que a presença de Jesus se faça real através da interiorização de seu nome, é necessária a repetição constante, incessante de Seu nome, e não apenas poucas vezes, e ainda mais intercalada com outras jaculatórias. Sem querer desmerecer o terço bizantino como tem sido propagado atualmente, mas sim querendo esclarecer a espiritualidade que está por trás dele, o que se observa é a mistura do terço mariano (apenas o terço em si, o objeto de contas) com o terço bizantino, excluindo o que ambos têm de mais importante: no mariano, a meditação dos mistérios de nossa salvação, e no bizantino, a repetição constante, ao ritmo da respiração, do nome de Jesus ( ou de uma jaculatória ) até a sua interiorização.
A espiritualidade do hesicasmo também está presente na Obra das Almas Pequeníssimas, que requer, além da prática da caridade com um sorriso e da aceitação da vontade de Deus com uma ação de graças, a repetição incessante (ou ao menos freqüente), do Ato de Amor: “Jesus, Maria, eu vos amo, salvai almas!” Compreendendo-se a espiritualidade do hesicasmo, compreende-se o valor da Obra das Almas Pequeníssimas, não a considerando mera “piedade popular”, como querem alguns.
Seminário Diocesano Paulo VI
Nova Iguaçu ( RJ ), 20 de junho de 2000
( Obs.: Este texto, no que se refere à “hesychia”, foi baseado no livro A experiência humana do divino, de Michel Meslin, publicado pela Ed. Vozes, em 1992 )
A espiritualidade denominada hesicasmo ( ou “hesychia”, ou “oração de Jesus” ) consiste, basicamente, na repetição contínua do nome de Jesus ( ou de uma jaculatória ), de tal modo que essa invocação se torne uma espécie de clamor natural, um reflexo inato, um hábito constante, até mesmo inconsciente.
Embora esta espiritualidade encontre paralelos em outras religiões, foi introduzida no cristianismo no monaquismo primitivo, ou seja, quando começaram a surgir monges e mosteiros cristãos, logo após o final das perseguições aos cristãos no Império Romano e, portanto, o final dos martírios.
Se o martírio era o maior testemunho de fé de um cristão, com o seu fim, um novo modo de vida surgiu para testemunhar a adesão radical ao Evangelho de Jesus: o monaquismo. Os monges passaram a se refugir na solidão de desertos, montanhas ou matas, em completa reclusão, longe das perturbações das paixões humanas, com o objetivo de conhecer e conversar com Deus. Rompiam com todos os laços afetivos e materiais, afastando de si todas as recordações do mundo.
Através da “hesychia”, recorriam à “lembrança de Deus” através de um apelo incessante, “Kyrie eleison” ( Senhor, tem piedade ).
No século V, o bispo de Fotiqué, Diádoco, declarou que purificava o seu coração pela lembrança de Jesus que o inflamava, através da invocação constantemente repetida do nome de Jesus ao ritmo da respiração. Ao tornar-se algo natural, realizava-se a palavra da Escritura: “Eu durmo, mas meu coração vigia”.
Evágrio Pôntico, no século anterior, a respeito dessa espiritualidade, defendia a oração monológica “Senhor, tem piedade”, dizendo que quando há abundância de palavras, existe multiplicidade de sentidos, correndo-se o risco de, com muitas palavras, dispersar-se o espírito, tirando-lhe o sossego. E só o sossego tornará o espírito, a alma e o coração capazes de contemplar a Deus.
Essa espiritualidade desenvolveu-se e fixou-se principalmente nos mosteiros do Sinai, no final do século VI. Pouco depois, São João Clímaco expôs de maneira precisa esta técnica espiritual na obra “Escada Santa ou Degraus para subir ao céu”. Dizia ele que a invocação do nome de Jesus é uma oração sempre presente no coração, pois ela se encontra ligada à respiração, ao próprio sopro da vida. “Que a lembrança de Jesus seja uma só coisa com vossa respiração; então conhecereis a utilidade da hesechia” (Degrau 27). Para São João Clímaco, assim como para Evágrio, a oração monológica impede que o espírito se disperse, ao mesmo tempo que alimenta a lembrança constante de Jesus no centro da vida humana, no próprio coração do homem. Assim, a memória de Jesus, interiorizada pela invocação constante de seu nome, torna Sua presença real.
No século XIX, na Rússia, o peregrino russo, em seus “Relatos”, escreve: “Invocando o nome de Jesus 12.000 vezes por dia, eu me sentia esmagado de felicidade e sabia já o sentido destas palavras: ‘O Reino de Deus está dentro de vós’”
O hesicasmo é uma técnica muito antiga e comum de concentração espiritual, através do domínio da respiração e do relaxamento, possibilitando um estado de calma que favorece a meditação. De certa forma, o hesicasmo continua presente em nossos dias.
O verdadeiro terço bizantino é um exemplo que reflete este tipo de espiritualidade de oração constante, como via de contemplação mística. Assim, para que a presença de Jesus se faça real através da interiorização de seu nome, é necessária a repetição constante, incessante de Seu nome, e não apenas poucas vezes, e ainda mais intercalada com outras jaculatórias. Sem querer desmerecer o terço bizantino como tem sido propagado atualmente, mas sim querendo esclarecer a espiritualidade que está por trás dele, o que se observa é a mistura do terço mariano (apenas o terço em si, o objeto de contas) com o terço bizantino, excluindo o que ambos têm de mais importante: no mariano, a meditação dos mistérios de nossa salvação, e no bizantino, a repetição constante, ao ritmo da respiração, do nome de Jesus ( ou de uma jaculatória ) até a sua interiorização.
A espiritualidade do hesicasmo também está presente na Obra das Almas Pequeníssimas, que requer, além da prática da caridade com um sorriso e da aceitação da vontade de Deus com uma ação de graças, a repetição incessante (ou ao menos freqüente), do Ato de Amor: “Jesus, Maria, eu vos amo, salvai almas!” Compreendendo-se a espiritualidade do hesicasmo, compreende-se o valor da Obra das Almas Pequeníssimas, não a considerando mera “piedade popular”, como querem alguns.
Seminário Diocesano Paulo VI
Nova Iguaçu ( RJ ), 20 de junho de 2000
( Obs.: Este texto, no que se refere à “hesychia”, foi baseado no livro A experiência humana do divino, de Michel Meslin, publicado pela Ed. Vozes, em 1992 )
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