UM CORAÇÃO ABERTO A TODOS

[PERDOAI  SEREIS PERDOADOS – Lc 6, 36]
Um dos primeiros seguidores de Josemaria Escrivá – filho de um destacado republicano perseguido por Franco, que conseguiu salvar a vida exilando-se na Argélia – foi Pedro Casciaro, então estudante de Matemática e de Arquitetura em Madrid. Esse rapaz pôde acompanhar São Josemaria em todas as aventuras  do período conturbado da preguerra e da guerra e, por isso, é testemunha valiosa, sobretudo porque deixou suas memórias escritas num excelente livro, já publicado no Brasil: Sonhai e  ficareis aquém (Ed. Quadrante, 2013).
Conta Pedro que o Padre (assim o chamavam todos) «nos infundia serenidade e a sua atitude ponderada e equânime contrastava totalmente com o ambiente radicalizado que nos cercava. Jamais discutia sobre questões políticas: os seus juízos sobre o que estava acontecendo eram sempre profundamente sacerdotais… Sofria muito: pela Igreja e pela situação de seu país, que tanto amava; e respeitava, no que se refere à vida pública, todas as opiniões legítimas de um cristão».
Recorda que, entre os poucos membros do Opus Dei e outros jovens que Escrivá orientava espiritualmente, havia grande diversidade de posições, «e nos ensinava a ter um grande respeito pela liberdade de cada qual».
Um desses jovens que procuravam orientação, José Luis Múzquiz, engenheiro recém formado, comenta que vários deles tinham curiosidade por saber qual era a linha política com a qual o padre simpatizava. «Eu perguntei-lhe – escreve – a sua opinião sobre um personagem político muito falado na época. Respondeu-me imediatamente: “Olha, aqui nunca te vão perguntar por política; vêm pessoas de todas as tendências: carlistas, de Ação Popular, monarquistas de Renovação Espanhola… E ontem estiveram aqui o Presidente e o Secretário da Associação de Estudantes Nacionalistas Bascos… Pelo contrário, vão te fazer outras perguntas mais incômodas: perguntarão se fazes oração, se aproveitas o tempo, se teus pais estão contentes, se estudas, pois para um estudante estudar é obrigação grave…”».
Pedro Casciaro confirma essas lembranças com a força do seu testemunho de  filho de um republicano perseguido que, como o pai, teve de sofrer também pessoalmente perseguição da parte dos franquistas:
«Num clima de revanchismo exacerbado, jamais vi nem ouvi no Padre expressão alguma que não fosse serena, prudente e caridosa para com todos. E dos que naquela altura estivemos mais perto dele, poucos talvez pudessem estar tão sensibilizados como eu, por causa da minha complexa situação familiar. Eu teria detectado instantaneamente um comentário ofensivo, um gesto de desprezo, uma alusão; mas nunca houve nada disso. O Padre nunca falava de política: queria e rezava pela paz e pela liberdade das consciências; desejava, com seu coração grande e aberto a todos, que todos voltassem e se aproximassem de Deus [...]. Nunca formulou uma acusação contra ninguém: quando não podia louvar, calava-se. Jamais teve uma expressão de rancor. Naquela época, não era nada fácil unir o amor à justiça com a caridade; mas o Padre soube fazê-lo admiravelmente».
Trecho do livro de F. Faus O homem que sabia perdoar (Ed. Indaiá 2012)

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