O arrependimento sincero

O filho pródigo reconheceu a sua culpa. Nós também precisamos reconhecê-la. Mas, para a consciência poder ser nisto bem sincera, é necessário que admita uma verdade básica: que a falta de virtude não é nunca uma limitação ou uma fatalidade, e que portanto, sempre que se carece de uma virtude ou se pratica um ato contrário a ela, existe culpa e, como o filho pródigo, é preciso dizer: Pequei!
Onde não há culpa é nas nossas limitações: por exemplo, na nossa falta de habilidade para contar casos, ou para penetrar nos segredos do cálculo diferencial, ou para cantar afinadamente. Da mesma forma que não há culpa nas “fatalidades” – nome impróprio que damos às contrariedades permitidas por Deus –, como é o caso infeliz de quem machuca uma criança que pulou na frente do carro atrás de uma bola.
Ora, as faltas de virtude não se enquadram em nenhum dos dois casos anteriores. Pecados como a impaciência, a preguiça, o egoísmo sensual, a mentira, a desonestidade nos negócios, a inconstância, a deslealdade, a crítica…, não são limitações psicológicas nem fatalidades, mas culpas nossas, de que devemos responsabilizar-nos.
Talvez se diga que, em certas ocasiões, é tão difícil praticar uma virtude, que tudo parece desculpar-nos. Mas Deus nosso Senhor retrucará que para cada dificuldade há uma graça que Ele nos oferece, e que é próprio do cristão não ficar esmagado pelos obstáculos, antes crescer através deles, fortalecendo a virtude na própria dificuldade.
É por isso que não podemos encarar os nossos pecados como uma espécie de “falha no circuito” ou defeito técnico inevitável, mas como frutos culpáveis do egoísmo, que não soube vencer-se como devia em cada ocasião: aceitando pacientemente os defeitos dos outros, sacrificando um prazer momentâneo para não trair a fidelidade, apertando um pouco mais o horário de um domingo para garantir a assistência à Missa, etc.
Tudo isto é algo que devemos levar muito em conta ao fazermos os nossos exames de consciência e ao prepararmos as nossas confissões. Não esqueçamos que, ao Sacramento da Confissão, vamos “acusar-nos”, não “desculpar-nos”. Assim, a sinceridade da contrição será plena.

Do livro Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens, e F. Faus

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