UMA PEQUENA FORMA DE CONFISSÃO DIANTE DA FACE DE DEUS
Cada um, de acordo com seu caso e necessidade, deve organizar e ampliar esta confissão,
segundo o ensinamento do Espírito Santo. Irei apenas estabelecer uma pequena direção.
Ó Tu, grande Deus intocável, Senhor de todas as coisas; Tu que, em Jesus Cristo, por grande
amor para conosco, manifestastes a Ti mesmo, com Tua santa substância, em nossa humanidade: Eu,
pobre, pecador e indigno miserável, venho diante de Tua presença, manifestada na humanidade de Jesus
Cristo, embora não seja digno de levantar os olhos a Ti, reconhecendo e confessando diante de Ti que
sou culpado de infidelidade, de romper com Teu grande amor e graça que Tu assegurastes livremente a
nós. Abandonei o pacto, que pela graça Tu fizestes comigo no Batismo, pelo qual me recebestes como
criança e herdeiro da vida eterna; coloquei meu desejo na vaidade deste mundo, e com ela empurrei
minha alma a um desfiladeiro, tornando-a bestial e terrestre. Com isto, minha alma não conhece a si
mesma, por causa do lodo de pecados; mas se considera uma criança estranha diante de Tua face,
indigna de desejar Tua graça. Repouso na culpa e na corrupção do pecado, e a vaidade de minha carne
corrupta, inunda minha alma; tenho não mais do que uma centelha de fôlego vivificante em mim, que
deseja Tua graça. Estou morto no pecado e na corrupção, e nesta condição miserável, não ouso sequer
levantar os olhos a Ti.
Ó Deus em Jesus Cristo, Tu que por causa de pobres pecadores Te tornastes homem para
socorrê-los, a Ti lamento, para Ti ainda tenho um pequeno refúgio em minha alma. Não considerei a Tua
herança, garantida a nós pobres homens através de Tua morte amarga, mas me fiz parte da herança da
vaidade, na fúria de meu Pai no curso da terra, e mergulhei no pecado; me encontro quase que morto
para Teu reino. Permaneço na fraqueza enquanto Tua força e a morte colérica me aguardam. O Gênio do
Mal me envenenou, a fim de que eu não conheça meu Salvador: Me tornei um galho selvagem em Tua
árvore, e consumi, com os porcos do demônio, minha herança que está em Ti. O que direi diante de Ti,
eu que não sou digno de Tua graça? Permaneço no sono da morte, que me cativou, e me encontro atada
por três fortes correntes. Ó Tu que Interrompes através da morte, assista-me, eu Te imploro, não posso,
não sou capaz de fazer nada! Estou morto em mim mesmo, não tenho força diante de Ti, de tanta
vergonha, não ouso levantar os olhos diante de Ti. Pois sou o degradante guardador de porcos, e gastei
minha herança com a falsa e adúltera prostituta da vaidade, na luxúria da carne; busquei a mim mesmo
em minha própria luxúria, e não a Ti. Agora, me tornei um tolo; estou nu e exposto; minha vergonha
permanece diante de meus olhos; Não posso escondê-la; Teu julgamento me aguarda. O que devo dizer
diante de Ti, que és o Juiz de todo o mundo? Nada tenho para trazer diante de Ti. Permaneço aqui nu e
exposto em Tua presença, e caio diante de Tua face lamentando minha miséria, e recorro à Tua grande
misericórdia, embora dela não seja digno; receba-me ainda que em Tua morte, e deixe-me apenas morrer
da minha morte na Tua. Oro para que Tu me arranques do solo de meu ser inato, e mate este meu ser
através de Tua morte, a fim de que eu não viva mais para mim, visto que não opero em mim mais do que
o pecado. Portanto, rogo a Ti, arranca da terra esta besta fraca, que está cheia de fraudes falsas e desejo
próprio, e liberta esta minha pobre alma destas pesadas amarras.
Ó Deus misericordioso, é pertencendo ao Teu amor e longo sofrimento que ainda não me
encontro no inferno. Submeto-me, com toda minha vontade, sentido e mente, à Tua graça e rogo à Tua
misericórdia. Clamo a Ti através de Tua morte, daquela pequena chispa de vida em mim, rodeada pela
morte e pelo inferno, que abrem suas gargantas contra mim, prestes a me engolir totalmente na morte; a
Ti clamo, Tu que prometestes que não irias extinguir o linho. Não tenho outro caminho a Ti senão o de
Tua própria e amarga morte e paixão, porque Tu tornastes nossa morte em vida pela Tua humanidade, e
quebrou as correntes da morte, e portanto mergulho o desejo de minha alma em Tua morte, no portão de
Tua morte, que Tu rompestes para abrir.
Ó Tu, grande fonte do amor de Deus, eu te imploro, auxilia-me, a fim de que possa morrer para a
vaidade e para o pecado na morte de meu Redentor, Jesus Cristo.
Ó Tu, sopro do grande amor de Deus, eu Te imploro, vivifica meu fraco sopro em mim, para que
possa ter fome e sede de Ti. Ó Senhor Jesus, doce força, eu Te imploro, dê de beber à minha alma de
Tua fonte de graça, Tua doce água da vida eterna, a fim de que possa despertar da morte e ter sede de Ti.
Ó, quão fraco me encontro pelo desejo de Tua força! Ó Deus misericordioso, transforma-me Tu, pois
não posso transformar a mim mesmo. Tu que vencestes a morte, rogo-Te, auxilia-me a lutar. O inimigo
me prende firmemente com suas três correntes, e não posso experimentar o desejo de minha alma de
estar diante de Ti! Vem Tu e toma o desejo de minha alma para Ti. Sejas Tu quem me leva para o Pai, e
libera-me das amarras do demônio! Não olhes para minha deformidade por estar nu diante de Ti, por ter
perdido Teu ornamento! Rogo a Ti, faças Tu uma vestimenta de vida, da vida que ainda resta em mim e
pulsa diante de Tua graça; e que assim ainda possa ver a Tua salvação.
Ó Tu amor profundo, rogo a Ti, toma o desejo de minha alma para Ti: arranque-o das garras da
morte através de Tua morte, em Tua Ressurreição, em Ti. Vivifica-me em Tua força, que o meu desejo e
minha vontade possa começar a surgir e florescer. Ó Tu vencedor da morte e da ira de Deus, conquista
meu interior; quebre minha vontade e fira minha alma, para que ela tema diante de Ti, e se envergonhe
de sua vontade própria diante de Teu julgamento, que ela possa ser sempre obediente a Ti, como um
instrumento Teu. Subjugue-a nas garras da morte; tire dela seus poderes, a fim de que não deseje mais
nada senão a Ti.
Ó Deus, Espírito Santo em Cristo meu Salvador, ensina-me, rogo a Ti, o que devo fazer para me
voltar a Ti. Atraia-me em Cristo para o Pai, e auxilia-me, para que de agora em diante eu possa deixar a
vaidade e o pecado, e nunca mais a eles retornar. Forje em mim um arrependimento verdadeiro pelos
pecados cometidos. Ó, mantenha-me em seus laços, e não permita que eu me perca de Ti, temo que o
demônio me ameace em carne e sangue e me traga novamente para a morte da morte. Ó, ilumina Tu
meu espírito, para que eu possa ver a passagem divina e caminhar ali continuamente. Livrai-me de tudo
aquilo que me afasta de Ti e dai-me tudo aquilo que me faz voltar a Ti: tira-me inteiramente de mim
mesmo, e me dê inteiramente a Ti mesmo. Não me deixe começar nada, querer, pensar e fazer nada sem
Ti! Ó Senhor quanto tempo! De fato não sou digno daquilo que desejo de Ti, rogo para que os desejos
de minha alma habitem senão nos portões de Tua corte; torne-a uma serva de Teus servos. Preserve-a
daquela cova horrível, onde não há conforto e nem alívio.
Ó Deus em Cristo Jesus. Sou um cego, e não conheço a mim mesmo por causa da vaidade. Tu te
tornastes oculto a mim em minha cegueira, e mesmo assim Tu estás perto de mim; mas Tua ira
despertada pelo meu desejo me encheu de trevas. Ó, tome senão o desejo de minha alma para Ti; proveo,
Ó Senhor, e esmague-o, a fim de que minha alma possa obter um raio da Tua doce graça.
Permaneço diante de Ti como um homem que está morrendo, cuja vida está deixando seus
lábios, como uma pequena chispa que se vai; inflame-a, Ó Senhor, e faça surgir a vida de minha alma
diante de Ti. Senhor, eu espero a Tua promessa, que fizestes dizendo: “Enquanto Eu viver, não viverei a
morte de um pecador, mas que ele se volte e viva”. Mergulho na morte de meu Redentor Jesus Cristo, e
espero por Ti, cuja palavra é verdade e vida. Amém.
Da mesma forma, todos devem confessar seus pecados, como se cada um se encontrasse num
exame de consciência, reconhecendo a que pecados entregou sua alma. Se seu propósito é ser
verdadeiramente honesto, como se faz necessário, para o espírito de Deus, que neste instante está na
vontade da mente, uma oração será feita por ele mesmo, em seu interior. Pois só o espírito de Deus é um
verdadeiro e honesto desejo que opera o arrependimento, intercedendo pela alma diante de Deus, através
da morte de Cristo. Mas não irei ocultar do caro Leitor, que tem uma intenção cristã como que Ele caminha
normalmente com aqueles que possuem este firme propósito e resolução. Ainda que, de fato, caminha
com um e com outro, dependendo se seus propósitos são mais ou menos honestos e fortes. Pois o
espírito de Deus não está preso, e costuma traçar caminhos ou processos de acordo com o que sabe caber
a cada um. Se bem que um soldado que esteve nas guerras pode dizer como lutar, instruindo outros que
possam vir a ocupar a mesma posição.
Quando um coração, com forte resolução e propósito fica diante de Deus, e adentra o
arrependimento, acontece com ele o mesmo que com a mulher de Cananéia, ou seja, parece que Deus
não irá ouvir. O coração permanece sem conforto; seus pecados, tolices e negligências, também se
apresentam, fazendo-o se sentir indigno de qualquer coisa. A mente permanece como que sem palavras;
a alma geme profundamente; o coração nada recebe, e não pode mais do que derramar sua confissão
diante de Deus; mas é como se o coração e a alma permanecessem calados. A alma poderia buscar a
Deus, mas a carne a mantém cativa: o demônio, também a confina fortemente, apresentando-lhe, mais
uma vez o caminho da vaidade, agradando-lhe com os luxos da carne, e dizendo-lhe internamente
“Espere, faça isso ou aquilo primeiro; junte dinheiro suficiente ou bens, primeiramente, para que não
passes necessidades no mundo, mais tarde adentre uma vida santa e de arrependimento; haverá tempo
suficiente”.
Quantos perecem num começo deste, caso se voltem novamente para a vaidade; e se tornam
como um enxerto novo quebrado pelo vento ou seco pelo calor!
Amada alma, note: Se quiseres ser uma vitoriosa em teu Cristo Salvador, contra a morte e o
inferno e pretende que seu enxerto cresça, tornando-se árvore no Reino de Cristo, deves seguir em
frente, permanecendo firme em teu primeiro e sincero propósito. Isto é tão precioso quanto tua herança
paterna, quanto seu corpo e sua alma também, seja que te tornes um anjo em Deus ou um demônio no
inferno. Se pretendes ser coroada, deves lutar; deves vencer em Cristo e não ceder ao demônio. Teu
propósito deve permanecer firme, não deves trocá-lo por honras e posses temporais. Quando o espírito
da carne diz: “Espere, não é conveniente ainda”; a alma deve dizer; “É chegada a hora de voltar para
minha terra natal, de onde meu pai Adão me tirou. Nenhuma criatura deve me deter, e embora este corpo
terrestre possa decair e perecer, entrarei agora com todo o meu desejo e vontade, no jardim de rosas de
meu Redentor Jesus Cristo; através de Seu sofrimento e morte estarei com Ele, e na morte de Cristo te
subjugarei, corpo terrestre, tu que engoliste a pérola que havia em mim, dada por Deus a meu pai Adão,
no paraíso. Irei romper a vontade de tua voluptuosidade, que está na vaidade; irei te prender, como a um
cachorro louco, com a corrente de meu firme propósito; e ainda que com isto, tu te tornes um tolo diante
dos homens, deves obedecer a firme resolução de minha alma. Nada deve te liberar desta corrente, senão
a morte temporal. Neste instante Deus e sua força me auxiliarão”.
http://www.luzdegaia.org/downloads/livros/diversos/O_Caminho_para_Cristo_Jacob_Boehme.pdf
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