A aflição espiritual
Se alguém cai em pecado e não se entristece na proporção à gravidade da queda, facilmente cairá na mesma rede.
Marcos o Asceta,
Sobre aqueles que se crêem justificados 215
Sobre aqueles que se crêem justificados 215
Antes da aflição e das lágrimas – ninguém nos engane com palavras vãs (cf. Ef 5,6) e não nos enganemos a nós mesmos – não há conversão em nós nem verdadeiro arrependimento, nem temor de Deus em nossos corações, não nos acusamos, e nossa alma não tem consciência do julgamento futuro, nem dos tormentos eternos. De fato, se nos tivéssemos acusado e tivéssemos esse estado e nele vivêssemos, logo teríamos derramado lágrimas. Sem elas, a dureza de nosso coração não poderá nunca se enternecer e nossa alma jamais adquirirá a humildade espiritual, e nem conseguiremos jamais nos tornarmos humildes. E quem não se tornou assim não pode estar unido ao Espírito Santo. Quem não está unido a ele graças à purificação, não pode alcançar a contemplação e o conhecimento de Deus, nem é digno de secretamente ser introduzido nas virtudes da humildade.
Simeão o Novo Teólogo,
Capítulos práticos e teológicos 69
Capítulos práticos e teológicos 69
Mesmo que haja alguma lágrima, ainda não se trata de aflição espiritual; há grande distância entre lágrimas e aflição espiritual. As lágrimas provêm da conversão do modo de viver e da recordação das antigas quedas da alma, como o fogo e a água fervente que purificam o coração. A aflição espiritual vem do alto, do divino orvalho do Espírito para consolar e reanimar a alma que, cheia de fervor, foi mergulhada no abismo da humildade e recebeu a contemplação da luz inacessível e que, como Davi, grita a Deus com alegria: Passamos através do fogo e da água e nos fizeste sair para dar-nos descanso (Sl 65,12).
Nicetas Stéthatos,
Capítulos práticos 71
Capítulos práticos 71
Nada melhor dá asas à alma no seu apaixonado amor por Deus e no seu amor pelos homens do que a humildade, a aflição espiritual e a oração pura. Uma, torna o espírito contrito, faz verter torrentes de lágrimas e, tendo diante dos olhos a brevidade da vida humana, ensina a reconhecer a fragilidade da própria medida; a outra, purifica a mente da matéria e ilumina o olho do coração, e torna luminosa toda a alma. A última, enfim, une a Deus o homem inteiro e, em sua conduta, o faz semelhante aos anjos, faz com que deguste a doçura dos bens eternos, doa-lhe os tesouros dos grandes mistérios e, inflamando-o de caridade, o persuade a buscar a coragem de dar sua vida pelos seus amigos (cf. Jo 15,13), como alguém que superou a pequenez do corpo.
Nicetas Stéthatos,
Capítulos naturais 41
Capítulos naturais 41
É impossível abrir a fonte das lágrimas sem uma profundíssima humildade, nem ser humilde sem a aflição espiritual que nasce depois que o Espírito veio até nós. A humildade gera a aflição espiritual e a aflição espiritual gera a humildade por obra do Espírito Santo. Unidas uma à outra por uma única graça como por uma corrente, estão indissoluvelmente ligadas pelo Espírito.
Nicetas Stéthatos,
Capítulos naturais 46
Capítulos naturais 46
Quem em si mesmo semeia lágrimas de aflição espiritual com vistas à justificação recolhe, como fruto de vida, uma alegria inefável, e quem busca e escuta o Senhor até que venham os frutos da sua justificação colhe a espiga carregada do conhecimento de Deus. A luz da sabedoria o iluminará e ele se tornará lâmpada de luz eterna para iluminar todos os homens. Não negará a si mesmo e ao próximo a luz da sabedoria escondendo-a sob o alqueire (cf. Mt 5,15) da inveja, mas na assembléia dos crentes dirá palavras boas (cf. Sl 44,1) para proveito de muitos e fará ressoar coisas escondidas desde o princípio (cf. Sl 78,2): as que ouviu do alto, fazendo-se eco do Espírito divino, as que conheceu dedicando-se à contemplação dos seres, e aquelas que seus pais lhe narraram (cf. Sl 77,3).
Nicetas Stéthatos,
Capítulos gnósticos 54
Capítulos gnósticos 54
Se compreendeste que é inerte em ti o impulso da energia das paixões e se, pela humildade, de teus olhos brota a aflição espiritual, saibas que chegou a ti o reino de Deus e que concebeste por obra dos Espírito Santo (cf. Mt 1,20).
Nicetas Stéthatos,
Capítulos gnósticos 58
Capítulos gnósticos 58
João, que com seus discursos revelou-nos a escada espiritual, diz: “Sede e vigília afligem o coração, mas de um coração aflito saem lágrimas, e quem as experimentou nelas encontrará objeto de sorriso” (João Clímaco, Escada 6 – PG 88,796B), daquele sorriso feliz, consolado, como o Senhor prometeu (cf. Mt 5,4). E da pobreza do corpo, amiga de Deus, nasce a aflição espiritual que torna felizes e consola aqueles que a possuem.
Gregório Pálamas,
À monja Xênia, vol. IV, p. 108
À monja Xênia, vol. IV, p. 108
Se ainda não foste digno do dom das lágrimas, luta e pede humildemente para adquiri-lo. Através das lágrimas, de fato, somos purificados das paixões e das sujeiras e nos tornamos partícipes das coisas boas e salvíficas, segundo as palavras de João Clímaco: “Como o fogo devora os caniços, assim também as lágrimas destroem toda sujeira visível e invisível” (João Clímaco, Escada 7 – PG 88,808B). E um outro pai: “Quem quiser matar os vícios mata-os com o pranto e quem quiser adquirir as virtudes as adquire com o pranto” (Abbá Poimen 119), E se não possuis a aflição espiritual, reconhece que és vaidoso; a vanglória não permite que a alma se aflija.
Calixto e Inácio Xanthopoulos,
Método 25
Método 25
http://www.ecclesia.com.br/filocalia/?page_id=836
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