BONDADE: A BONDADE CULTIVA O BEM
O homem bom faz bem aos outros somente com a sua presença, pela força atraente das virtudes. Mas o seu influxo benéfico não se limita a isso. Já víamos que tem a disposição de trabalhar, de fazer alguma coisa para que o bem desabroche nos outros. Vive, para dizê-lo em poucas palavras, a serviço do bem dos outros.
Não há dúvida de que este é um belo ideal de vida. Quem não almeja passar pelo mundo, como Cristo, fazendo o bem (At 10, 38), deixando uma esteira de bondade? “Que a tua vida – lê-se em Caminho – não seja uma vida estéril. – Sê útil. – Deixa rasto. – Ilumina com o resplendor da tua fé e do teu amor” (n. 1). Estas palavras são todo um empolgante programa de bondade.
A este propósito, lembro-me de um livro que me causou impressão. Intitulava-se “Viveu para ninguém”, e era o romance de um homem medíocre, vulgar, que passou pelo mundo sem deixar rasto algum. Dele se poderia dizer, como um triste epitáfio, que teria dado na mesma se nunca tivesse existido. Seria penoso que um tal epitáfio se pudesse aplicar a nós.
Pois bem, é hora de nos perguntarmos sinceramente o que nós deixamos de bom nos corações e nas vidas dos que vivem e trabalham conosco. Como estamos contribuindo para o seu bem?
Comecemos por convencer-nos de que a primeira ajuda que devemos prestar-lhes consiste em não lhes criar dificuldades. Porque, infelizmente, com frequência somos mais obstáculo do que auxílio. E o pior é que não nos apercebemos disso. Se nos dissessem: “A sua esposa, o seu filho, o seu colega, o seu pai, têm tais e tais problemas, tais e tais defeitos, e você é a causa deles”, levaríamos uma surpresa. “Como assim?”, retrucaríamos. “Eu, que tenho que sofrer esses defeitos, ainda por cima sou culpado deles?” Pois sim, muitas vezes somos.
Tomemos por exemplo um honesto pai de família, trabalhador abnegado, daqueles que “só vivem para a família”. Trabalha em dois empregos e volta cansado ao lar. Ao mesmo tempo, tem um temperamento fechado, não é homem de muitas palavras. Os familiares veem-no soturno e calado, e não se atrevem a interferir no seu aparente mau humor. Caso lhe perguntem: “Está aborrecido? Acontece-lhe alguma coisa?”, responderá, com olhar de surpresa, que não lhe acontece nada. Talvez acrescente: “Sou assim mesmo, é o meu jeito”.
Ora, acontece que esse “jeito” é uma barreira. Bloqueia o diálogo com a esposa e os filhos. A mulher, sentindo-se cada vez mais isolada, sem poder compartilhar as suas fadigas com o marido, irá ficando cada vez mais nervosa e multiplicará as faltas de paciência com as crianças. O marido lamentará que os nervos da mulher estejam criando um ambiente pesado no lar. Mas nem lhe passará pela cabeça que foi ele quem o provocou, com a sua cômoda abstenção. Se tivesse aprendido a chegar ao lar sorrindo, acolhendo, interessando-se pelos problemas da mulher e dos filhos, teria criado condições para um diálogo amável. Teria facilitado um clima cordial, em que os nervos dos outros se dissolveriam. E haveria paz.
De modo análogo, podemos pensar no chefe de um escritório que reclama da falta de iniciativa de um dos seus subordinados: acha que é um homem sem garra no trabalho, que lhe falta entusiasmo e realiza as suas tarefas de modo rotineiro e como que a contragosto. Certamente, este não é o estado de ânimo ideal para um trabalho dinâmico e criativo. Mas de quem é a culpa? Pode muito bem suceder que semelhante inibição e falta de eficiência do empregado tenha sido provocada por esse mesmo superior, que nunca soube incentivá-lo, nem teve paciência para ensiná-lo, nem lhe ofereceu o estímulo de uma palavra positiva, que fizesse o outro sentir-se valorizado. Só soube cobrar e criticar. Grande parte da culpa, sem dúvida nenhuma, é do chefe.
São atitudes desse tipo as que dificultam o bem dos outros, por causa das nossas brusquidões e omissões. Não há bondade ali: fazemos mais mal que bem.
Trecho do livro de F.F O homem bom-Reflexões sobre a bondade
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