O Combate Espiritual


 Regnum caelorum vim patitur, et violenti rapiunt illud– Mat. XI, 12

 

Estas palavras revelam o combate espiritual – o combate que todo cristão deve manter a fim de entrar na posse do reino dos Céus. Céu, o belo céu, foi nos conquistado pelo preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor, e para qual todos os homens são chamados a entrar, ainda que nem todos entrem, pois o reino dos céus adquire-se à força, e os violentos – as almas corajosas – arrebatam-no. É um reino a ser conquistado, e deve ser conquistado à preço de coragem e de combate. Porque também o que combate nos jogos públicos não é coroado, senão depois que combateu segundo as regras (2 Tim. II. 5). O que, então, é o combate espiritual? Quais são os inimigos que devemos combater e como devemos suportar até a vitória?

O combate espiritual do qual falamos consiste em triunfar sobre os inimigos de nossa alma, que são em número de três – o mundo, a carne e o demônio.

O Demônio

O demônio, o espírito de trevas e erro, particularmente ataca nossa mente e nossa fé, que é verdadeira luz. Ele procura obscurecer a fé levando-nos a negligenciar as instruções e pias meditações cristãs. Ele vai além: procura corromper nossa fé insinuando erros fatais, de modo que nos possa roubar inteiramente a fé. Para se ater a esse objetivo, ele forja incessantemente inúmeros erros, os quais ele vela debaixo de teorias de todas as formas; e para espalhá-las ele faz uso de duplo instrumento que, infelizmente! Realiza seu objetivo muito bem – uma imprensa injuriosa e impiedosa, além de conversas que são nada mais que seus ecos. Atentai ao primeiro inimigo de nossa alma – o demônio!

O Mundo

O segundo é o mundo, o grande ajudante do demônio. O mundo se aproveita ao máximo das fraquezas do coração humano e se esforça para seduzi-lo e intimidá-lo. Ele seduz com divertimentos, teatros, companhias perigosas, bajulação, aplausos, promessas de fortuna. E estes divertimentos e promessas são muitas armadilhas nas quais caem todos aqueles que não tem a salvação eterna de suas almas acima de todo o resto. Assusta almas tímidas com o fantasma do respeito humano, ameaçando-lhes com sua zombaria e desgraça. Agita almas interesseiras mostrando-lhes os efeitos de sua vingança na perda de posição, em negócios prejudicados, etc. Atentai ao mundo e suas táticas. Para superá-los, precisamos desprezar suas falsas promessas assim como suas ameaças, encarar suas perseguições, até as mais violentas. Elas não podem nos fazer prejuízos reais, pois Nosso Senhor nos diz: E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma; mas temei antes aquele que pode lançar no inferno a alma e o corpo (Mat. X. 28).

A Carne

O terceiro inimigo é a carne – isto é, nós mesmos e nossas paixões desordenadas. Nós entendemos como paixões o orgulho, a avareza e os demais pecados capitais, cujos germes carregamos dentro de nós. Eles são répteis peçonhentos que se procriam no íntimo de nossos corações e que devem ser reprimidos enquanto ainda são fracos e relativamente inofensivos. Se nós permitirmos que eles cresçam, irão sufocar a vida de nossas almas. Eles são escravos rebeldes e se nós nos rendermos aos seus caprichos, eles se tornarão tiranos e nos reduzirão a uma escravidão que nos levará à perdição eterna. Nós devemos conquistar nossas paixões, nós precisamos conquistar nós mesmos; devemos conquistar generosamente e devemos o quanto antes nos exercitar neste bom combate.

O Combate

Mas para sermos vitoriosos, como devemos combater estes inimigos? As condições necessárias são a coragem e o uso de armas.

  1. Sem coragem não há vitória
    Aquele que deseja conquistar deve fechar seu coração a toda tristeza, desânimo ou desencorajamento e preenchê-lo com um nobre ardor que é chamado de coragem bélica. Coragem é inflamada no vislumbrar do perigo e na esperança da vitória.O perigo que nos ameaça é supremo; nossos inimigos são poderosos e empenhados em nossa ruína eterna. Mas fracos como somos, nós podemos vencê-los, pois Nosso Senhor nos oferece sua assistência. Ah! Se Deus é por nós, quem será contra nós? Tudo posso, diz o apóstolo, naquele que me conforta. Ao mesmo tempo Deus nos oferece apenas suas assistência. Ele não nos dispensa do combate a nós mesmos; Ele deseja que exerçamos todas as nossas energias, que usemos todas as armas que Ele coloca à nossa disposição.
  2. O uso das armas
    Agora, o que seriam essas armas? Primeiro, a espada da oração que devemos ter sempre em mãos. Então devemos nos cobrir com um escudo sagrado – o escudo dos sacramentos que devemos receber com frequência. Finalmente, devemos vestir a couraça da salvação – isto é, a fé, que devemos fortalecer e nutrir ouvindo a palavra de Nosso Senhor e através de leituras espirituais.Tal é o combate espiritual que devemos sustentar; tais são as táticas que nos assegurarão a vitória. E quanto maior a confiança que tivermos em Nossa Senhora, Rainha do Céu, mais fácil e mais completa será a vitória. Ela é a poderosa Virgem; Ela haverá de destronar nosso inimigo, e seus pés virginais haverão de esmagar sua cabeça.

Pe. F.X. Schouppe, S.J., em Sodality Director’s Manual (1882)
Tradução por um congregado mariano


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Profecias de Marie-Julie Jahenny (Mística da Santa Igreja Católica)

Sermão dos Cânticos dos Cânticos

São Filipe Néri e Alegria dos Santos