AS HORAS SÃO SÉCULOS
São. Paulo da Cruz, estando uma noite para meter-se na cama, ouviu de repente um grande ruído perto de seu quarto. Crendo ser uma visita do demônio, que vinha, como de costume, perturbar o seu sono, aliás brevíssimo, deu-lhe ordem para retirar-se... Mas, repetindo-se por três vezes o estranho ruído, perguntou que era e o que queria.
- Sou, disse ao apresentar-se, a alma do sacerdote que faleceu esta tarde às seis e meia e venho comunicar-lhe que estou no Purgatório por não me haver emendado dos defeitos de que o sr. me repreendeu muitas vezes. Oh! quanto sofro! Parece-me ter passado já mil anos neste oceano de fogo.
Comovido até às lágrimas, levanta-se o Santo, olha o relógio que marcava seis e três quartos, e diz ao sacerdote:
- Como? Faz um quarto de hora que falecestes e parece-vos que são mil anos?!
- Oh! respondeu o outro, como é longo o tempo no Purgatório!
E pedindo com instância que o aliviasse, não se afastou enquanto o Santo não lho prometeu.
Tomando sua disciplina de ferro, S. Paulo da Cruz açoita-se até o sangue, ora e chora pedindo a Deus que livre aquela alma de tão grandes tormentos.
Não recebendo nenhum aviso do céu, como soía acontecer, toma de novo seus rudes instrumentos de penitência, querendo fazer violência à divina Misericórdia. Como a resposta não viesse, disse num transporte de confiança filial: - "Senhor, meu Deus, rogo-vos que livreis esta alma pelo amor que tendes à minha".
Vencido por seus rogos, prometeu-lhe o Senhor que, no dia seguinte, antes do meio-dia, a alma do sacerdote sairia do Purgatório.
Apenas amanheceu subiu S. Paulo ao altar e celebrou com mais fervor que nunca o Santo Sacrifício, oferecendo a Deus por aquela alma o precioso sangue de Jesus Cristo.
Ó maravilha! No momento da comunhão, viu o Santo passar diante de si, alegre e resplandecente de luz, a alma daquele sacerdote que subia ao céu.
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