Judica me Deus
Julgai-me, ó Deus, e separai minha causa duma gente não santa
Livrai-me do homem iníquo e enganador
Santo Afonso Maria de Ligório, o doctor moralis, eminente santo da Igreja, bispo, fundador dos redentoristas e patrono de nossa congregação mariana, como poucos santos tinha especial sensibilidade pela gravidade do pecado. Além de suas muitas meditações sobre o pecado mortal, em sua vida encontramos vários momentos que mostram o horror que ofender a Deus lhe causava.
Em 1737, S. Afonso, como várias vezes fez a convite do bispo, pregava o retiro aos padres em Nápoles. Comentando sobre a enorme gravidade que um pecado mortal tem ao ser cometido por um sacerdote exclamou: In sacerdotio, peccasti peristi – Para o sacerdote, pecar é condenar-se.
Um dos padres presentes no retiro, para grande escândalo e confusão de todos, levantou-se e bradou: Nego consequentiam – Eu nego essa consequência. S. Afonso, porém, calou-se. Na manhã seguinte, este infeliz sacerdote experimentou a consequência: ao iniciar as orações ao pé do altar, apenas finalizou as palavras “Judica me Deus” – julgai-me, ó Deus – e caiu morto nos degraus do altar.
Anos mais tarde, na casa dos redentoristas em Ciorani, S. Afonso mandou erguer um altar em honra a Nossa Senhora das Dores, por quem tinha especial devoção. Um dia, lemos em biografia, ao iniciar a Missa nesta capela, nas orações ao pé do altar, iniciou a oração do salmo 42. Um sacerdote o respondia como acólito.
Ao pronunciar o início do salmo 42 – Judica me Deus – S. Afonso repentinamente calou-se. Seus olhos se fixaram na imagem de Nossa Senhora das Dores. Pensando que estava distraído, o padre que o respondia continuou a partir das palavras “et discerne causam meam…“, uma, duas, três vezes. S. Afonso, porém, não continuou. Seus olhos estavam fixos na Imagem e sua boca, muda. Ele estava em êxtase.
Sua alma, contemplando o Coração de Maria dilacerado pelas espadas da Antiga Profecia de Simeão, voltou seus olhos para o horror do pecado mortal – Et afflixerunt Spiritum Sanctum eius – Considerou a multidão dos pecados do mundo e o estado deplorável de tantas almas comentem tão grande crime.
Por minutos, ficou em silêncio contemplando a Imagem da Mãe das Dores, até ser violentamente sacudido pelo padre, saindo do êxtase e voltando à Missa.
Julgai-me, meu Deus… Em sua imensa sensibilidade espiritual, em seu horror ao pecado e seus conselhos de como evitá-lo e fugir de suas insídias, que possamos rezar como Santo Afonso:
Senhor, Já basta o tanto que Vos ofendi; o restante de minha vida quero gastá-Lo amando-Vos e a chorar pelas ofensas que Vos dirigi. Arrependo-me de todo o coração. Meu Jesus, quero amar-Vos, dai-me forças. Maria, minha Mãe, ajudai-me.
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